“O-o-olhe pra mim,” sua gagueira, incentivada pelo nervoso, tirava toda a sua autoridade. Eu não me importava, considerava só um detalhe, mas ele sempre corava e ficava ainda mais nervoso quando percebia as falhas em sua fala. Era minha função lembra-lo que sua voz rouca continuava extremamente bela, mesmo quando ele se e engasgava com as palavras “eu quero ve-ver seu rosto”.
Eu obedeci, aproveitando para descobrir se algo havia mudado durante o tempo que passamos separados. Dono de olhos castanhos e profundos, era difícil decidir em que prestar atenção: se neles, ou se em seu sorriso, este o mais sincero que eu já havia visto no rosto de alguém. Os olhos pequenos quase se fechavam e criavam rugas em seus cantos, formando o conjunto mais interessante possível em toda sua inocência.
Fiz questão de comentar em voz em alta, recebendo uma risada envergonhada em troca. Sorri ao reparar em suas bochechas vermelhas em meio a minúsculas sardas. Conhecíamos-nos há tanto tempo e me impressiono quando penso que só fui realmente reparar em todas as pequenas partes que o compõem quando fomos separados por fronteiras.
Agradecia todos os dias pelas férias da faculdade, quando podia encontrá-lo outra vez e dizer em voz alta, durante um abraço, o quanto o amava. Às vezes ele dizia primeiro, às vezes eu, mas era sempre melhor que a primeira vez em que deixamos essas palavras escaparem de nossas bocas.
Seus braços apertaram minha cintura, as mãos espalmadas em minhas costas. Inspirei seu perfume já fraquinho e fechei os olhos enquanto repetíamos o mesmo ritual de todos os verões.
“Eu te amo” ele disse, sem gaguejar ”Senti saudades”.